segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Coisas difíceis de dizer quando bêbado!

Coisas que são DIFÍCEIS de dizer quando você está bêbado:
- Indubitavelmente.
- Preliminarmente.
- Proliferação.
- Inconstitucional.

Coisas que são EXTREMAMENTE DIFÍCEIS de dizer quando você esta bêbado:
- Especificidade.
- Transubstanciado.
- Verossimilhança.
- Três tigres.

Coisas que são TOTALMENTE IMPOSSÍVEIS de dizer quando você está bêbado:
- Puta merda que menina feia!!!!
- Chega, já bebi demais.
- Sai fora, você não é o meu tipo…

HÁ!



FONTE: Manual do canalha padrão

Mensagem subliminar!



HÁ!

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Trechos do livro: ERAM UMA VEZ, MORANGOS...

(...)Era uma sexta comum, saíra por aí como quem só quer aproveitar a cerveja gelada e enojar das mesmas caras da cidade provinciana. Buraco dos Ratos era a taverna da qual escolhera para soltar altas gargalhadas enfeitadas pelo forte teor alcoólico. 02h: 26min da matina do dia 7 para o dia 8 - como se o destino proclama-se algo impetuosamente CAPITAL vindo do sete para ficar ETERNO como o oito deitado. Eu sou este moço que está perto do balcão de blazer preto surrado, blusa branca por dentro extra grossa para o frio não congelar meu pescoço quando sair daqui, e uma calça jeans cinza, meus óculos tortos e com grau baixo para minha vista cansada, meu cabelo normal, igual de todos os homens. Com a cerveja ao lado encima do balcão, um copo na mão esquerda e um laboratório completo para cuspir veneno, sinto algo escorrer no canto da boca, pego um lenço vermelho que está no bolso da frente no peito esquerdo, limpo o canto da boca e coloco-o de volta, lembro-me do passado e vejo a criança me puxar levemente pela calça, olhando-me para abaixo a vejo, subitamente ignoro, olhando para o nada a frente novamente, me ateio no pensamento, percebendo o quanto me faz falta aquele ópio de cores vivas, intensas, que um dia já pintara meus melhores quadros. Hoje só me sobra os pulsos, o pincel e minhas cores mortas, todos se foram para a falsa terra de Nazaré, que ao tempo dado já deve ter se desgastado, sobrando a mim somente as obras feitas, obras maravilhosas, desgastantes, mas maravilhosa, obra digna de um artista apenas. Sinto um leve puxão na minha calça, simplesmente ignoro-me com mais um gole de cerveja. Ponho a mão direita no bolso do blazer, puxo um cigarro de tarja – céu. Acendo-o sempre com certo charme, daqueles tipos de vilão – da – noite - filho – da – puta – petulantemente - depravado, que conjectura sempre gostar de finais felizes, mas não gosta, porque a desgraça tem muito mais paladar quando misturada a outros sabores, porque só existe glória naquilo que é superado e – ou derrotado pela suas mãos. Não é Sade, não é Thanatos, e sim Eros em seu magnífico primor – idéia que atravessa as várias possibilidades de manifestação de energia dando sentido a uma gama variada de acontecimentos (seja ele bom ou ruim) promovidos pelas forças de atração da matéria inanimadas (ser humano) até aqueles dependentes de sentimentos humanos gregários como o amor, a sexualidade, o carinho, a solidariedade; porque o ponto altivo de qualquer coisa torna-se tão óbvio, exato e demasiado, que é necessário descer um pouco ou bastante? Por uma necessidade inata de sempre estar em movimento. Existem pessoas que preferem roer unha, puxar os pequenos fios da sobrancelha, ranger dentes ou ficar balançando a perna freneticamente num compasso desconhecido de uma sinfonia que está querendo sentir, mas não sabe nem como tocá-la e muito menos ouvi-la, porque jamais sabe o que quer. Sempre ansiando alguma coisa, mas nunca sabe o que espera. Eu? Prefiro viver, não espero, vou atrás, procuro em todos os cantos sabendo o que quero. Satisfações e insatisfações e nada mais, só viver. Não gosto da simplicidade, para mim, tudo tem que ter o encanto do complexo e incompreensível, sobrevir muitas das vezes nos passos falsos da satisfação barata e rápida, e no final tudo fica só o vazio do pleno mesmo sabendo que o vazio de tudo tem sua plenitude por ter o seu valor a que muito lhe é parecido conosco, o nada. E é esta plenitude que nos atemoriza. Nós mesmos. O solo. É um mal de todo romântico nesta terra cair nestes delitos - acreditar demais, acreditando de menos em si muitas das vezes. Mas, como o “todo sempre” existe a sua salva exceção, há uma pequena coisa que difere a razão e o sentimento de um romântico, pois o amor do romântico por si irá oportunizar sempre uma chance de renovar-se perante o fogo que não arde, que dói, mas não se sente.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Dia do Publicitário

Que a propaganda é a alma do negócio, isso todo mundo já sabe. Hoje em dia, a propaganda não é mais considerada despesa e sim investimento. Campanhas publicitárias são o canal direto de comunicação entre o produto e o consumidor. Para que a propaganda atinja a excelência, o publicitário deve fazer uma ampla pesquisa sobre o tipo de consumidor que compraria o produto para melhor direcionar a campanha. E em se tratando de produto, entenda-se serviços, empresas e até mesmo pessoas.O publicitário constrói a imagem do artigo e depois disso, cria anúncios para toda espécie de mídia – impressa e eletrônica - , folhetos e banners, ações de merchandising e compra espaço na mídia. Para tantas ações simultâneas, é imprescindível que, além de conhecimento teórico, o publicitário tenha muita criatividade.

Prova da criatividade dos anúncios, é o anúncio “Gordo/Magro”, criado pela F/Nazca S&S em 2002 para a joalheria Natan. O anúncio ganhou diversos prêmios internacionais, incluindo um Leão de Bronze em Cannes e uma medalha de prata no Clio Awards.

Elogiando a veracidade e ironia do anúncio. F/Nazca, parabéns!

Publicitários, obrigado!

Fonte: UFGNet, CEDI, Soleis, Manual do Canalha Padrão

O cortejo

Era à tarde, meu cigarro estava no início e o café borbulhava de tão quente, naquela hora em que o sol esfriou, dando a falsa impressão de que estamos em um clima favorável, favorável o cacete! Dormi mal, acordei mal, acordei com alguém ausente, minha barriga doeu pra querer comer alguma coisa, mesmo não tendo fome, favorável é roubar a arma desse policial - montado em sua moto que se aproxima no canto da esquina, como quem quer parar o trânsito – e dar um tiro na própria cara por tanta vergonha e desprezo por si só.
Peraí! Ele parou o trânsito. Parou a moto e descansou o pé esquerdo ao chão para sustentar-se na moto. Um barulho ensurdecedor de uma buzina de caminhão ecoa no ar como quem proclama algo extremamente forte. É um caminhão do bombeiro – daqueles que todo garoto sonha estar em cima de um, como naquelas fantasias de apagar o fogo da vizinha, salvar vidas e blá - e uma fileira imensa de carros logo atrás dele, que atravessava na esquina acima e vinha em minha direção, uns homens de uniforme bege, em cima do carro vermelho, só pode ser a escolta que trouxe os perdedores – jogadores – da – seleção – de – futebol - brasileira com suas enferrujadas medalhas de bronze, ou melhor, poderia ser os vitoriosos – jogadores – desmembrados - brasileiros que ganharam ouro na china disputando bocha em cima de uma cadeira de rodas (aliás, eles são brasileiros e não desistem nunca). E quem teria essa brilhante idéia de trazer estas figuras a este fim de mundo? Aí tem coisa!
Uma tragada e um tímido gole de café. CARALHO! Ainda tá quente essa porra, quase que queimo a língua, assoprar um pouco mais pra esfriar é preciso.
O carro ainda está no outro quarteirão, parece que ele não quer andar, grita, grita, grita sua buzina melancólica. Mas parece não querer mover-se. Move-se lentamente, um tanto triste, se está triste por quê não fica parado? Algo lento e um tanto doloroso ir devagar, espécie de Cortejo Fúnebre. É isso, só pode ser isso, EPIFANIA! Só pode ser um cortejo de carne morrida. BINGO!
Estava corretíssimo, o carro – apaga - fogo cada vez mais se aproximava e conseguia já, enxergar uma coroa de flores no meio dos bombeiros, era um cortejo fúnebre mesmo. Logo pensei, e existi me indagando, será que um dia terei um cortejo como este? Com o meu caixão ao lado de verdadeiros homens que arriscam suas vidas para proteger a nossa? Pessoas chorando pela perda que lhes causei? Fileiras quilométricas de carros com seus vidros escuros e suas luzes acesas para mostrar que este carro está também deprimido e por isso que quer andar bem devagar sempre piscando suas mágoas, com pessoas de óculos escuros, escondendo o seu ar blasé, chorando por dentro, lembrando a cada instante vivido comigo.
Um trago e nada de café.
O carro se aproximava na esquina, o guarda na sua moto, sinalizava um Pare! Aos demais condutores que estão esperando o cortejo do bife passar para poderem dar continuidade nas suas jornadas diárias. Vejo o caixão e imagino o quanto que o bife já deve ter balançado lá dentro, nesta cidade existe muitos buracos, buracos enormes, um carro grande assim não precisa desviar de nenhum, mas o solavanco é impossível não sentir. Nota-se. O carro dobra na esquina para o meu lado direito, os bombeiros que nada tem a ver com o falecido, conversam aleatoriamente, rindo aos montes e olhando para a bunda de todas as gatinhas que passam pela esquina, sempre dando aquele olhar – secante e assoviando agudamente para chamar a atenção da mulher – codinome: cantada de pedreiro - que eles sabem que elas não irão olhar se caso for uma mulher de respeito, mas, todas elas olham e o que posso dizer? Tudo puta. O caminhão já havia completado a manobra e logo atrás dele, eu podia ver o primeiro carro. Tinha uma senhora idosa de óculos escuros com a sua mão ao peito, pausadamente soluçando. Na certa era a mulher do ilustre presunto. Pensei, logo existi me indagando, o que será que esta mulher sente ao perder o marido de tantos anos de jornada? Será que ela ficou triste realmente? Ou ficou feliz?
Posso até imaginar que ela possa estar um pouco alegre, por poder agora fazer aqueles cruzeiros maravilhosos da terceira idade, onde até o Instituto Médico Legal está presente para futuras emergências para com os titios, com as presenças ilustres de Dercy Gonçalves e sua gramática insuperável - também pudera, ela enterrou quase todos da academia brasileira de letras – para alegrar os viajantes com suas incríveis histórias de um Brasil ainda remoto, sem falar nos shows de Waldick Soriano cantando “eu não sou cachorro não” à cappela e Dorival Caymmi se indagando até morrer “O que é que a baiana tem?
Para tudo! Mas todas estas figuras já morreram, pelo o que me consta. Dona Morte depois de ter procrastinado por um século e mais um longo acréscimo, levou a Dercy e em seguida foi à vez do Dorival Caymmi, e eu jurando que Dorival Caymmi já tinha morrido faz tempo? Mas não, morreu um dia desses, quer dizer, morreu não, uma vez que baiano não nasce, estréia, então, digamos que ele saiu de cartaz. Já o Waldick Soriano, prefiro até nem comentar.
Uma tragada forte com enorme sorriso sordidamente impossível não soltar, um gole de café, agora está melhor, esfriou um pouco.
Na certa a velha não estava feliz mesmo, mesmo por que todos seus heróis de época já haviam inclusive seu falecido marido. Ao lado da velha deveria ser a filha mais velha que dirigia o carro, aquela que sempre a ajudou em todas as horas, sempre se preocupou com as questões familiares e jamais se opôs a qualquer decisão dos pais – codinome: pau – mandado – puxa - saco! Logo em seguida vem outro carro, sem vidro escuro, sem pessoas de óculos escuros. Na certa deveria ser o irmão – pobre do bife. Aquele que sempre admirou o irmão, mas, também sempre o invejou.
Os demais carros que passam estão cheios de sujeitos que muito ou nada têm a ver com o bife, alguns sofrem, outros, apenas sentem. Sinto também, mas é um sentir diferente, certa inveja, algo difícil de explicar, será que no meu cortejo estarão as pessoas que jamais tive apatia? Será que estarão as pessoas com as quais eu sempre tratei mal, só por tratar? Será que elas chorarão pela dor que lhes causei? E meus pais? Como eles irão se sentir? Fala sério, chega de morte, foda-se o cortejo, foda-se o bife, foda-se tudo, eu ainda quero viver...

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Gretchen - A guerreira


Gretchen ganhou uma transformação para participar de um quadro no TV Fama. A transformação foi na mulher-guerreira Xena, e ela parece ter encarnado a personagem. Outra que também participou foi a filha, Thammy, que resolveram transformar em Tom Cruise. TOM-fuckin’-CRUISE. Não sei qual o futuro da TV Brasileira depois disso, mas vamos parar pra pensar que existem outras subcelebridades “dançarinas” que podem se transformar em coisas mais rentáveis que Xena. Fonte: FOFOQUINHAS

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Simplesmente Piaf




Non!
Rien de rien...
Non !
Je ne regrette rien
Ni le bien
Quon ma fait,
Ni le mal,
Tout ça mest bien égal !
Non!
Rien de rien...
Non !
Je ne regrette rien

C'est payé,
Balayé,
Oublié,
Je me fous du passé !
Avec me souvenirs
JÂ'ai allumé le feu,
Mes chagrins, mes plaisirs,
Je nai plus besoin deux !

Balayé les amours,
Avec leurs trémolos,
Balayés pour toujours
Je repars à zéro...

Non!
Rien de rien...
Non !
Je ne regrette rien
Ni le bien
Quon ma fait,
Ni le mal,
Tout ça mest bien égal !
Non!
Rien de rien...
Non !
Je ne regrette rien


Car ma vie,
Car mes joies,
Aujourdhui,
Ça commence avec toi !

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Mais uma horinha para mais uma estrela Por T. Q & C. L


Uma tormenta de pensamentos me passa a cabeça como a força de um tornado que mistura tudo, jogando tantas outras coisas mais importantes para o ar. E assim por fim acabando-se no vicioso ciclo, daquele do tipo capitalista que ama emergir para logo em seguida cair na entropia No final, só fica os destroços. O vazio do acabado.

Mas, * “o vazio tem o valor e a semelhança do pleno. Um meio de obter é não procurar, um meio de ter é o de não pedir e somente acreditar que o silêncio que eu creio em mim é resposta a meu – mistério.”

Porque “sou obrigado a procurar uma verdade que me ultrapassa (...). Porque na pobreza de corpo e espírito eu toco na santidade, eu que quero o sopro do meu além. Para ser mais do que eu, pois tão pouco sou.” Desde a ceifa do meu ópio tão amado.

Quiçá pudera olhar pelo buraco da fechadura ou pelas frestas da porta para observar o que me aguarda no outro lado, que o destino sempre se encarrega de trazer-me quando menos espero – e quando menos quero. Ou apenas “(...) aceitar minha liberdade sem pensar o que muitos acham: que existir é coisa de doido, caso de loucura. Porque parece. Existir não é lógico.”

Pensamentos estes, que remetem um passado. Um passado – passado. Que nego e irei continuar negando até os últimos fios brancos que ainda me restarem. Um peso para si, pode sair da boca de qualquer analista de Bagé ou curadores de sofrodicos em estado terminal, mas, é meu peso, minha carga, meu karma.

“Comer a hóstia será sentir o insosso do mundo e banhar-se no não. Isso será coragem minha, a de abandonar sentimentos antigos já confortáveis.”

Pois “(...) experimentei quase tudo, inclusive a paixão e o seu desespero. E agora só quereria ter o que eu tivesse sido e não fui.”

Enfim, ainda vale à pena chorar por leite derramado?

“Já que sou, o jeito é ser.”

*Clarice Lispector, A hora da estrela, Rocco, Rio de Janeiro, 1999

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Curta as Curtinhas (Ronaldo Rony)

  • Gênese da corrupção desde a mais tenra idade, subornou o médico para passar no teste do pézinho
  • -Gosto do jeito que esta mulher se veste
-E eu gosto do jeito que se despe


  • MANTENDO AS APARÊNCIAS:
-Ei, ei, ei
- O que é?
-Vamos beber bastante para ninguém perceber que estamos lombrado
- ãhn ?

  • - Cade zumbi?
-Foi fundar um quilombo ali e já volta

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Richard Berlin - “Angústia não ajuda ninguém a ser genial”

O psiquiatra critica o mito dos gênios atormentados. Com tratamento médico, diz, eles seriam melhores
Marcela Buscato
A lista de artistas perturbados é extensa. do pintor Vincent Van Gogh, do século XIX, ao líder da banda americana Nirvana, Kurt Cobain, que se suicidou em 1994, e à cantora britânica Amy Winehouse. São exemplos que parecem corroborar a tese de que a angústia, às vezes causada por uma doença psiquiátrica, funciona como incentivo para grandes criações. Será que os tormentos mentais são amigos da genialidade? Segundo o médico americano Richard Berlin, de 58 anos, não. Ele acredita que um tratamento poderia ter tornado (ou tornar) os exemplos acima ainda melhores. No livro Poets on Prozac (Poetas no Prozac, em referência ao medicamento que mudou o tratamento da depressão), ele reuniu ensaios de 16 poetas premiados. Eles relatam como é difícil trabalhar convivendo com uma doença como a depressão. Para Berlin, um poeta nas horas vagas, as histórias desmistificam o tratamento psiquiátrico. “Ele não transforma ninguém em robô”, diz. “Só faz com que as pessoas atinjam seu potencial.”

ENTREVISTA – RICHARD BERLIM


QUEM É: É psiquiatra e poeta. Mora em Richmond, em Massachusetts, nos Estados Unidos
O QUE FAZ: Formado em Medicina pela Universidade Northwestern, tem um consultório na cidade de Lenox e é professor da Escola de Medicina da Universidade de Massachusetts, nos Estados Unidos
O QUE PUBLICOU: Suas poesias são publicadas no Psychiatric Times, jornal americano para médicos psiquiatras. É autor do livro de poemas How JFK Killed My Father.


ÉPOCAHá alguma relação entre as doenças psiquiátricas e o aumento da criatividade? Richard Berlin – Antes de fazer o livro, eu até acreditava que sim. Hoje, estou convencido de que não há nenhuma conexão. No começo do projeto, pedi a muitos poetas que escrevessem um ensaio para o livro contando sua experiência. Eram artistas laureados, pessoas que ganharam o Prêmio Pulitzer (um dos mais importantes da literatura americana). Eles disseram que adorariam escrever s sobre o assunto, mas não tinham conhecimento de causa. Nunca haviam sofrido com uma doença dessas. Os poetas que aceitaram escrever para o livro porque já sofreram com alguma doença psiquiátrica contam como era difícil produzir algo de qualidade quando estavam doentes – angustiados, psicóticos, maníacos, sofrendo com alguma desordem alimentar ou dependência química. Só depois de se tratar foram capazes de criar com todo o seu potencial. A idéia de que doenças psiquiátricas dão mais inspiração ou fazem com que as pessoas se dediquem mais ao trabalho porque são obsessivas é somente um mito.


ÉPOCA Como esse mito surgiu?

Berlin - A criatividade começou a ser ligada à loucura na Grécia Antiga, quando os poetas acreditavam que eram visitados por musas, que os inspiravam. Eles entravam em um estado de êxtase, como se estivessem encantados ou possuídos. Os poetas românticos do século XIX ajudaram a propagar a idéia de que para escrever era preciso estar triste, melancólico. Esse imaginário perdura até hoje porque se tornou marketing. Anunciar-se como o artista triste, sozinho em seu quarto, abandonado pela pessoa amada, é uma boa estratégia para tornar seu trabalho mais atraente.


“Anunciar-se como o artista triste, sozinho em seu quarto, abandonado pela pessoa amada, é uma boa estratégia para tornar seu trabalho mais atraente.”


ÉPOCA – Alguns estudos tentam explicar esse mito cientificamente. Sugerem que pessoas criativas captam facilmente estímulos do ambiente. Por isso, seriam mais instáveis e propensas a distúrbios psiquiátricos. Eles estão errados?

Berlin – Não existe nenhuma evidência de que pessoas criativas são mais sujeitas a essas doenças. O melhor trabalho sobre esse assunto foi feito pelo psiquiatra americano Albert Rothenberg. Ele entrevistou e estudou cientistas ganhadores do Prêmio Nobel, escritores vencedores do Pulitzer. Descobriu que eles eram muito atentos às informações a que estão expostos no dia-a-dia. Mas em nada se encaixavam no estereótipo do artista criativo, que seria instável, dramático, emocional e temperamental. Eles eram pessoas que trabalhavam duro e estavam muito concentradas no trabalho. Mas não eram compulsivas.


ÉPOCA – Como explicar que tantas pessoas consideradas geniais, como o pintor holandês Vincent Van Gogh e o filósofo alemão Friedrich Nietzsche, tenham sofrido com distúrbios psiquiátricos?

Berlin - São histórias de pessoas que não estão vivas, que não podem contar como se sentiam. A psicóloga americana Kay Redfiled Jamison tentou mostrar no livro Touched with Fire (algo como Tocados pelo Fogo) que personalidades importantes já mortas, como o poeta romântico Lord Byron e a escritora inglesa Virginia Woolf, sofreram de transtorno bipolar. O trabalho dela só ajudou a confirmar que continuamos usando figuras mortas para reafirmar a ligação entre criatividade e doenças psiquiátricas. Uma importante poetisa americana, Sylvia Plath, que se suicidou aos 30 anos por causa de depressão, escreveu: “Quando estou louca, isso é tudo o que eu sou. Não posso produzir nada”. Eu só fico imaginando que tipo de trabalho artistas como ela poderiam ter criado se tivessem vivido mais. Talvez, se tratados, eles pudessem ter sido ainda melhores.


ÉPOCA – Se medicados, os artistas não perderiam a matéria-prima de sua inspiração, a angústia e a tristeza? Berlin – Essa é uma crença comum. O poeta da língua alemã Rainer Maria Rilke escreveu: “Se eu perder meus demônios, perderei meus anjos também”. Mas nenhum dos poetas que escreveu para o meu livro concordaria com essa afirmação. Quando eles estavam com seus “demônios”, estavam sofrendo, não eram capazes de criar. Só puderam criar plenamente depois de fazer terapia, de ser medicados. Dá para perceber como o trabalho deles mudou depois do tratamento. Alguns se tornaram mais engraçados, brincalhões e criativos. Começaram a escrever em estilos diferentes, se permitiram experimentar mais, estavam menos inibidos.

ÉPOCA – Essas histórias podem ajudar outras pessoas? Berlin – O depoimento desses escritores ajuda a desmistificar o tratamento psiquiátrico. Há um grande estigma negativo sobre esse assunto. Muitas pessoas acreditam que o tratamento vai roubar a criatividade, deixar a pessoa sem iniciativa, como um robô. A história desses poetas mostra que o tratamento psiquiátrico pode fazer com que as pessoas atinjam todo o seu potencial.

ÉPOCA – Além de psiquiatra, o senhor também é poeta. Nunca sentiu que a tristeza pode ajudar a escrever? Berlin – Eu nunca sofri com uma dessas doenças, mas já passei por períodos de tristeza e ansiedade. Quando comecei a escrever, depois dos 40 anos, percebi que o único assunto que conseguia transformar em poesia era a doença do meu pai e sua morte, quando eu tinha 30 anos. Esse foi o tema do meu primeiro livro. Eu acredito que escrever me ajudou a controlar minhas emoções. Como diria o poeta inglês William Wordsworth, “Poesia é emoção relembrada em tranqüilidade”.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Exercícios de pontuação amorosa.

De Xico Sá.

Sim, homem é frouxo, só usa vírgula, no máximo um ponto e virgula; jamais um ponto final.
Sim, o amor acaba, como sentenciou a mais bela das crônicas de Paulo Mendes Campos: “Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar...”
Acaba, mas só as mulheres têm a coragem de pingar o ponto da caneta-tinteiro do amor. E pronto. Às vezes com três exclamações, como nas manchetes sangrentas de antigamente.
Sem reticências...
Mesmo, em algumas ocasiões, contra a vontade. Sábias, sabem que não faz sentido prorrogação, os pênaltis, deixar o destino decidir na morte súbita.
O homem até cria motivos a mais para que a mulher diga basta, chega, é o fim!!!
O macho pode até sair para comprar cigarro na esquina e nunca mais voltar. E sair por ai dando baforadas aflitas no king-size do abandono, no Continental sem filtro da covardia e do desamor.
Mulher se acaba, mas diz na lata, sem mané-metáforas.
Melhor mesmo para os dois lados, é que haja o maior barraco. Um quebra-quebra miserável, celular contra a parede, controle remoto no teto, óculos na maré, acusações mútuas, o diabo-a-quatro, barraqueiros corazones.
O amor, se é amor, não se acaba de forma civilizada.
Nem no Crato... nem na Suécia.
Se ama de verdade, nem o mais frio dos esquimós consegue escrever o “the end” sem uma quebradeira monstruosa.
Fim de amor sem baixarias é o atestado, com reconhecimento de firma e carimbo do cartório, de que o amor ali não mais estava.
O mais frio, o mais “cool” dos ingleses estrebucha e fura o disco dos Smiths, I Am Human, sim, demasiadamente humano esse barraco sem fim.
O que não pode é sair por ai assobiando, camisa aberta, relax, chutando as tampinhas da indiferença para dentro dos bueiros das calçadas e do tempo.
O fim do amor exige uma viuvez, um luto, não pode simplesmente pular o muro do reino da Carençolândia para exilar-se, com mala e cuia, com a primeira criatura ou com o primeiro traste que aparece pela frente.
E vamos ficando por aqui, pois já derrapei na curva da auto-ajuda como uma Kombi velha na Serra do Mar... e já já descambarei, eu me conheço, para o mundo picareta de Paulo Coelho. Vade retro.

Xico Sá é cronista do Blônicas.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Ninguém sabe viralizar como o Coringa

Quer saber o que é efeito viral? Vá ver o novo Batman. O Coringa faz tudo aquilo que estamos sempre tentando convencer nossos clientes a fazer: ações diferenciadas para integrar todas as mídias.

E lá fui eu assistir ao novo filme do Batman (ou “Batemãe”, para os maldosos). Um pouco desconfiado no início, pois tinha medo de ser apenas mais um episódio do “007 mascarado”. Mas já que todo mundo estava falando tão bem, resolvi arriscar. E não me arrependi nem um pouco, pois não imaginava que fosse ver exemplos tão bons de marketing viral.
Esse filme, aliás, já começou a ser viralizado muito antes do seu lançamento. O ator que fez o vilão apareceu morto misteriosamente em um quarto de hotel. O que fez o “mocinho” agredir a mãe e a irmã durante a turnê de pré-estréia. Ou seja, quem não vai querer ver um filme que perturbou tanto a cabeça dos dois principais protagonistas?
Pra ajudar, algumas ações na internet (pistas de uma caça ao tesouro espalhadas no mundo inteiro, site de uma agência de viagens fictícia) aumentaram ainda mais a curiosidade do público. E para minha surpresa, o próprio enredo é uma verdadeira aula de como fazer um viral de sucesso.
O professor, claro, é o Coringa. Ele faz tudo aquilo que estamos sempre tentando convencer nossos clientes a fazer: ações diferenciadas para integrar todas as mídias. Transmite vídeos caseiros em broadcast pela TV, faz inúmeras intervenções ao vivo por celular, envia malas diretas para explodir carros, transforma a carta de baralho do Joker em um ‘teaser’ para assassinatos e, claro, usa como ninguém o marketing de guerrilha (no caso, literalmente).
Até o conceito do “pull media” ele aproveita: em vez de armar uma emboscada em algum lugar e levar todos os inimigos até lá – como qualquer bom malfeitor faria –, ele prefere invadir a festa onde todos já estão juntos. Ou seja, um “vilão 2.0″ explorando a comunicação 360º em nome do mal.
Mas o que mais me impressionou foi a capacidade do Coringa de manipular a opinião pública sem gastar quase nada. Como ele mesmo diz na cena em que queima uma pilha de dinheiro dos mafiosos, “eu só preciso de coisas baratas: gasolina e pólvora”.
Essa é uma lição que nosso mercado tem que aprender: não é preciso gastar milhões de reais para atingir milhões de pessoas. Os argentinos, por exemplo, durante a crise econômica, tiveram que criar campanhas com pouquíssima verba – e viraram referência de linguagem no mundo inteiro. Enquanto isso, nossa criatividade continua caindo junto com o risco-país.
O Coringa até inventou uma nova maneira de usar a mecânica do “clique e envie para alguém”: criou uma idéia simples, barata e que também funciona como pesquisa de opinião – no caso, para quem já viu o filme, estou me referindo à cena das pessoas divididas em dois barcos, cada grupo com um “brinquedinho interativo”. E para quem ainda não viu o filme, um conselho: vá assistir como se estivesse indo a uma palestra de três horas sobre marketing viral. É praticamente um MBA em Gotham City.
Afinal, precisamos aprender a ser menos Batman e mais Coringa. Enquanto o primeiro gasta fortunas em carros, motos e roupas, o segundo só precisa de um kit de maquiagem vagabundo para conseguir o mesmo destaque.
Fazendo um paralelo com a publicidade, você pode ganhar um leão de ouro em Cannes com uma mega produção – como o filme da Sony Bravia, com os coelhinhos de massinha colorida – ou com um roteiro simples e original – como o comercial dos quatro palhaços ouvindo música dentro do carro, para o Festival de Filme Independente de Buenos Aires.
E para nós é muito mais fácil – e bem mais divertido – seguir o mesmo atalho trilhado por nossos ‘hermanos’ do que tentar atingir o patamar de verba dos americanos.
E convenhamos: com a fortuna do Bruce Wayne é fácil ser um super-herói.
[Webinsider]

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Um perdido numa noite muito suja!

Hoje acordei assim, pesado - azarado – ríspido - sujo, um tanto lento demais para acompanhar e compreender complexos das coisas mundanas como um maníaco – depressivo em seu estado mais desordenado.

Sonhos perdidos, vontades jogadas no lixo, cenas e letras que tanto repudiei pensando que jamais pudera acontecer comigo. Pois acreditei. Como uma criança crê no conto – do – vigário – do – Papai – Noel. Hoje acordo confuso, emaranhado, totalmente implexo por não entender quase nada, e tudo que é necessário é só compreender e aceitar. Mas, como aceitar? Como se distanciar? Como encarar tudo novamente? Como se nada tivera acontecido, o mundo anda tão pesado e eu também.

Não tenho mais saco e nem paciência suficiente para aceitar tais condições que essa vida - de - droga - com - drogas me permite. Na noite de ontem saí por ai, atrás de qualquer uma emoção que me tocasse nesses pequenos pedaços que ainda me sobram no peito. Ao sentar com a pessoa com quem fui me encontrar, logo cheguei e perguntei:

- E ai, tudo bem com você ?

- Estou melhor agora. Ela disse.

Puta que pariu, fudeu tudo!

Mais uma, já era! Porra, odeio mulheres - solteiras – empolgadas – com – a – oportunidade – da - transa – que – há – meses – não – obtém.

Sempre querendo forçar a colocar uma coleira em um cachorro que já existe dono. Completamente abandonado, mas, ainda existe o dono.

Intricada se torna minha cabeça com as imensas oportunidades para dizer à essas moças o que realmente gostaria de dizer:

- Qual é a tua guria?

- Será que não dava pra gente encerrar o papo, pedir a conta e ir para um motel o mais rápido possível? Eu saí mesmo só pra gozar e nada mais, poder ser?

Eu prefiro desenrolar tudo, para deixar sempre bem nítido o que sempre quero com vocês.

- Não queria perder meu tempo em papos fúteis como: qual é seu signo? Quem é seu ascendente? Você já amou alguma vez? Já traíste? Já foi traído? Você já teve alguma relação homossexual? Quantas tempo você já conseguiu ficar fazendo sexo?

Porra, mas que merda, olha aonde fui me arranjar, primeiro, todo mundo um dia já amou, já trai sim e trai porquê não gostava, e pelo o que me consta até um tempo atrás achava que fora traído mas não fui, e caralho, como um homem em sua virilidade plena pode ter relações homossexuais? É muita babaquice, com tanto de mulher - supernúmerosas, batendo na canela, e preferir se esfregar pelo - com - pelo? Para mim é um tanto asqueroso e baixo demais para mim. E digo logo, sou tarado - maníaco - sexual - do - park, posso ficar horas, dias, meses e quem sabe anos transando, desde de que eu ame de verdade a pessoa.

- Não quero este tipo de papo, mas, se você falar de você e apenas de suas vontades já me deixa feliz, pois ao menos alguém está disposto a colocar um papo na mesa.

- Eu prefiro cigarros mais fracos porquê tendem a dar menos pigarro. Ela diz.

E retruco logo em seguida:

- Eu prefiro cigarros mais fortes porquê sempre me dão pigarro e sempre estou cuspindo umas bolas pretas, causando uma sensação de alegria - e - mal - estar por sempre ver que meu pulmão se vai e minhas horas diminuindo cada vez mais e me sinto tristonho por ter que usar um vício maravilhoso que é fumar para acabar meus minutos aqui na terra.

Odeio perder tempo nessas firulas de primeiros encontros, transa só a partir da terceira noite, beijo só na despedida, ah, vá se fuder, eu quero te comer, não quero me apaixonar e muito menos ficar construindo sonhos que me parece um tanto retrógado à um passado vigente que ainda vive no meu presente e que me despedaça por dentro todas as noites que gozo e sinto o vazio por dentro.

Lembro dos sonhos perdidos, vontades jogadas no lixo, cenas e letras que tanto repudiei pensando que jamais pudera acontecer comigo. Pois acreditei. Como uma criança crê no conto – do – vigário – do – papai – Noel.

Sei que não devo usar tanta armadura para a minha vida e que isso vai me impedir de viver outras coisas, mas, que diferença faz, aquilo que eu realmente quero para mim é aquilo que me agrada – mas – desagrada e eu não posso ter. Mas amo isso que me agrada - desagrada.

Enfim.

Prefiro ficar na sombra do superficial e do que ficar vulnerável à dores futuras.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Trechos

"Mas se eu tivesse ficado, teria sido diferente? Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais -por que ir em frente? Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia –qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido.Eu prefiro viver a ilusão do quase, quando estou "quase" certa que desistindo naquele momento vou levar comigo uma coisa bonita. Quando eu "quase" tenho certeza que insistir naquilo vai me fazer sofrer, que insistir em algo ou alguém pode não terminar da melhor maneira, que pode não ser do jeito que eu queria que fosse, eu jogo tudo pro alto, sem arrependimentos futuros! Eu prefiro viver com a incerteza de poder ter dado certo, que com a certeza de ter acabado em dor. Talvez loucura, medo, eu diria covardia, loucura quem sabe!”

:*

"E uma compulsão horrível de quebrar imediatamente qualquer relação bonita que mal comece a acontecer. Destruir antes que cresça. Com requintes, com sofreguidão, com textos que me vêm prontos e faces que se sobrepõem às outras. Para que não me firam, minto. E tomo a providência cuidadosa de eu mesmo me ferir, sem prestar atenção se estou ferindo o outro também. Não queria fazer mal a você. Não queria que você chorasse. Não queria cobrar absolutamente nada. Por que o Zen de repente escapa e se transforma em Sem? Sem que se consiga controlar".

:*

"Primeiro você cai num poço. Mas não é ruim cair num poço assim de repente?No começo é. Mas você logo começa a curtir as pedras do poço. O limo do poço.A umidade do poço. A água do poço. A terra do poço. O cheiro do poço. O poçodo poço. Mas não é ruim a gente ir entrando nos poços dos poços sem fim? Agente não sente medo? A gente sente um pouco de medo mas não dói. A gentenão morre? A gente morre um pouco em cada poço. E não dói? Morrer não dói.Morrer é entrar noutra. E depois: no fundo do poço do poço do poço do poço você vai descobrir quê."

:*

"(...)Claro que você não tem culpa, coração, caímos exatamente na mesma ratoeira, a única diferença é que você pensa que pode escapar, e eu quero chafurdar na dor deste ferro enfiado fundo na minha garganta seca que só umedece com vodka, me passa o cigarro, não, não estou desesperada, não mais do que sempre estive, nothing special, baby, não estou louca nem bêbada, estou é lúcida pra caralho e sei claramente que não tenho nenhuma saída, ah não se preocupe, meu bem, depois que você sair tomo banho frio, leite quente com mel de eucalipto, gin-seng e lexotan,depois deito, depois durmo, depois acordo e passo uma semana a ban-chá e arroz integral, absolutamente santa, absolutamente pura, absolutamente limpa, depois tomo outro porre, cheiro cinco gramas, bato o carro numa esquina ou ligo para o CVV às quatro da madrugada e alugo a cabeça dum panaca qualquer choramingando coisas do tipo preciso-tanto-de-uma-razão-para-viver-e-sei-que-esta-razão-só-está-dentro-de-mim-bababá-bababá, até o sol pintar atrás daqueles edifícios, não vou tomar nenhuma medida drástica, a não ser continuar, tem coisa mais destrutiva que insistir sem fé nenhuma?”

:*

“Ando angustiada demais, meu amigo, palavrinha antiga essa, angústia, duas décadas de convívio cotidiano, mas ando, ando, tenho uma coisa apertada aqui no meu peito, um sufoco, uma sede, um peso, não me venha com essas história de atraiçoamos-todos-os-nossos-ideais, nunca tive porra de ideal nenhum, só queria era salvar a minha, ,veja só que coisa mais individualista elitista, capitalista, só queria ser feliz, cara.”

:*

“Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra.”

:*

"Então me vens e me chega e me invades e me tomas e me pedes e me perdes e te derramas sobre mim com teus olhos sempre fugitivos e abres a boca para libertar novas histórias e outra vez me completo assim, sem urgências, e me concentro inteiro nas coisas que me contas, e assim calado, e assim submisso, te mastigo dentro de mim enquanto me apunhalas com lenta delicadeza deixando claro em cada promessa que jamais será cumprida, que nada devo esperar além dessa máscara colorida, que me queres assim porque assim que és..."

:*

"Em luta, meu ser se parte em dois. Um que foge, outro que aceita. O que aceita diz: não. Eu não quero pensar no que virá: quero pensar no que é. Agora. No que está sendo. Pensar no que ainda não veio é fugir, buscar apoio em coisas externas a mim, de cuja consistência não posso duvidar porque não a conheço. Pensar no que está sendo, ou antes, não, não pensar, mas enfrentar e penetrar no que está sendo é coragem. Pensar é ainda fuga: aprender subjetivamente a realidade de maneira a não assustar. Entrar nela significa viver."

O que vem fácil, vai fácil!

Não sei aonde nos perdermos, mas, sei aonde pecamos, e sei que ficar tentando encontrar estes ínfimos pontos nada vai adiantar, pois não trará você de volta para mim.
Um dia se arrependerá amargamente pelo triste fim que quiserdes ter, e que ainda pensará em mim nos seus momentos mais difíceis, pois era a sua mão que eu sempre segurava para lhe deixar sempre tranqüila e dizer:
- Eu estou aqui, para o que der e vier, jamais quero soltar tua mão.
Pois, dou minha vida em troca de sua felicidade.
Na tua presença minha mão sua
Meu corpo treme
Meu coração pulsa
Meus pensamentos se embaralham
E ela torna-se mais confusa do que já é.
Na tua ausência meu corpo pesa
Meu corpo padece
Meu coração morre
Meus pensamentos se voltam para você
E ela torna-se a arma mais fatal contra o esquecimento que tanto desejo para mim poder repousar e dormir sossegado, mesmo sabendo que você não me quis.
Que se faça do ódio nossa distancia, pois pelo amor torna-se impossível.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Paixão


Está escrito na fachada: "Isso é um lar".

De Xico Sá.

Noves fora o “homem de predinho antigo”, aquela criatura que adora um pé-direito alto, um sofá de época e uma luz indireta, o macho solteiro é um desastre no capítulo decoração.

Tem lá o seu sofá velho, a sua tv, uma cama barulhenta, três ou quatro panelas _sem cabo_ encarvoadas pelo tempo, e copos de requeijão, muitos copos de requeijão, alguns deles ainda com um pedaço do papel do rótulo. Se brincar, o cara coleciona também os velhos copos de geléia de mocotó, um primor de utensílio “vintage”.

E quando a fofa, toda fina e fresca, nova namorada, chega lá no muquifo com a sua garrafa de champanhe?! Procura, procura as taças, para fazer uma graça com o marmanjo, e nada. O jeito é beber Veuve Cliquot em copo de extrato de tomate.

Quem mandou apaixonar-se por um macho-jurubeba autêntico, que vem a ser justamente o avesso do metrossexual, aquele mancebo da moda que se lambuza de creminhos da Lancôme e decora o loft, sim, ele mora num loft, de acordo com as tendências da revista “Wallpaper”.

“Uó-o-qué, rapaz?, seje homi”, diria meu amigo Rinaldo, lá no sítio Acauã, de Chã Grande, a terra do chuchu, agreste pernambucano.

Pior é quando ela tenta mudar tudo. E põe aquele seu quadro caríssimo e de grife numa sala que não tem nem mesmo um sofá que preste?!

Um desastre.

A fofa, toda classe média metida a besta, não desiste nunca. Ai presenteia o bofe _sim, ela está doida e perdidinha pelo cabra!_ com uma batedeira prateada ultramoderna com 600 funções, que nunca será usada. Ai fica aquela batedeira high-tech fazendo companhia aos três pratos chinfrins e aos garfos tortos _como se o Uri Geller, aquele parapsicólogo que aparecia no “Fantástico” das antigas, tivesse jantado por lá ou feito faxina na área.

Ela começa a revirar geral, um deus-nos-acuda, numa casa onde ninguém havia mudado sequer uma planta de lugar. O reino vegetal, aliás, é outro ponto fraco do macho solteiro. Jarros, flores? Nem de plástico.

Na casa do homem solteiro típico, a utilidade triunfa sobre a estética. O cúmulo do utilitarismo.

Sofá da tia-avó vira cama, como diz a minha amiga D., co-autora dessa crônica. A cama vira sofá, a rede vira sofá e cobertor, o cobertor vira cortina preso à persiana...
A falta de cortina é outra marca registrada do desmantelo do cavaleiro solitário. Quando muito, papel filme.

Abajur? De jeito maneira. Tosco no último, ele não tem cultura de luz indireta, nem nunca terá, esqueça.

Outro traço de personalidade do macho solteiro: tudo que chega até a cozinha vira tupperware _aquelas embalagens plásticas de lasanha comprada pronta, caixinha de entrega de comida chinesa ou japonesa, potes de sorvete...

Melhor assim do que as frescuras do ex da minha amiga D., a mesma rapariga acima citada. Ela entrou na casa dele e logo ouviu a advertência, em altos brados: “Não pisa de salto no meu carpete de madeira!”

“Nooooosssssa!,” arreganharia a bocarra o velho Costinha, se vivo fosse.

...................................
ha ha ha ha sá!

Existe sempre uma coisa Ausente - Caio F.

Paris — Toda vez que chego a Paris tenho um ritual particular. Depois de dormir algumas horas, dou uma espanada no rodenirterceiromundista e vou até Notre-Dame. Acendo vela, rezo, fico olhando a catedral imensa no coração do Ocidente. Sempre penso em Joana d’Arc, heroína dos meus remotos 12 anos; no caminho de Santiago de Compostela, do qual Notre-Dame é o ponto de partida — e em minha mãe, professora de História que, entre tantas coisas mais, me ensinou essa paixão pelo mundo e pelo tempo.Sempre acontecem coisas quando vou a Notre-Dame. Certa vez, encontrei um conhecido de Porto Alegre que não via pelo menos á2o anos. Outra, chegando de uma temporada penosa numa Londres congelada e aterrorizada por bombas do IRA, na época da Guerra do Golfo, tropecei numa greve de fome de curdos no jardim em frente. Na mais bonita dessas vezes, eu estava tristíssimo. Há meses não havia sol, ninguém mandava notícias de lugar algum, o dinheiro estava no fim, pessoas que eu considerava amigas tinham sido cruéis e desonestas. Pior que tudo, rondava um sentimento de desorientação. Aquela liberdade e falta de laços tão totais que tornam-se horríveis, e você pode então ir tanto para Botucatu quanto para Java, Budapeste ou Maputo — nada interessa. Viajante sofre muito: é o preço que se paga por querer ver “como um danado”,feito Pessoa. Eu sentia profunda falta de alguma coisa que não sabia o que era. Sabia só que doía, doía. Sem remédio.Enrolado num capotão da Segunda Guerra, naquela tarde em Notre-Dame rezei, acendi vela, pensei coisas do passado, da fantasia e memória, depois saí a caminhar. Parei numa vitrina cheia de obras do conde Saint-Germain, me perdi pelos bulevares da le dela Cité. Então sentei num banco do Quai de Bourbon, de costas para o Sena, acendi um cigarro e olhei para a casa em frente, no outro lado da rua. Na fachada estragada pelo tempo lia-se numa placa: “II y a toujours quelque choe d’abient qui me tourmente” (Existe sempre alguma coisa ausente que me atormenta) — frase de uma carta escrita por Camilie Claudel a Rodín, em 1886. Daquela casa, dizia aplaca, Camille saíra direto para o hospício, onde permaneceu até a morte. Perdida de amor, de talento e de loucura.Fazia frio, garoava fino sobre o Sena, daquelas garoas tão finas que mal chegam a molhar um cigarro. Copiei a frase numa agenda. E seja lá o que possa significar “ficar bem” dentro desse desconforto inseparável da condição, naquele momento justo e breve — fiquei bem. Tomei um Calvados, entrei numa galeria para ver os desenhos de Egon Schiele enquanto a frase de Camille assentava aos poucos na cabeça. Que algo sempre nos falta — o que chamamos de Deus, o que chamamos de amor, saúde, dinheiro, esperança ou paz. Sentir sede, faz parte. E atormenta.Como a vida é tecelã imprevisível, e ponto dado aqui vezenquando só vai ser arrematado lá na frente. Três anos depois fui parar em Saint-Nazaire, cidadezinha no estuário do rio Loire, fronteira sul da Bretanha. Lá, escrevi uma novela chamada Bem longe de Marienbad , homenagem mais à canção de Barbara que ao filme de Resnais. Uma tarde saí a caminhar procurando na mente uma epígrafe para o texto. Por “acaso”, fui dar na frente de um centro cultural chamado (oh!) Camille Claudel. Lembrei da agenda antiga, fui remexer papéis. E lá estava aquela frase que eu nem lembrava mais e era, sim, a epígrafe e síntese (quem sabe epitáfio, um dia) não só daquele texto, mas de todos os outros que escrevi até hoje. E do que não escrevi, mas vivi e vivo e viverei.Pego o metrô, vou conferir. Continua lá, a placa na fachada da casa número 1 do Quai de Bourbon, no mesmo lugar. Quando um dia você vier a Paris, procure. E se não vier, para seu próprio bem guarde este recado: alguma coisa sempre faz falta. Guarde sem dor, embora doa, e em segredo.

O Estado de S. Paulo, 3/4/1994

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Dia do Psicologo - 27/08



Parabéns aos psicólogos, que há 43 anos no Brasil ajudam a todos resolverem seus problemas.


Psicólogo não adoece, somatiza.

Psicólogo não estuda, sublima.

Psicólogo não fofoca, transfere.

Psicólogo não conversa, pontua.

Psicólogo não fala, verbaliza.

Psicólogo não transa, libera libido.

Psicólogo não é indiscreto, é espontâneo.

Psicólogo não dá vexame, surta.

Psicólogo não tem idéias, tem insights.

Psicólogo não resolve problemas, fecha gestalts.

Psicólogo não pensa nisso, respira nisso.

Psicólogo não muda de interesse, muda de figura e fundo.

Psicólogo não pensa, abstrai.

Psicólogo não é gente, é um estado de espírito.


Uma visão comportamental das coisas:


Psicólogo não elogia, reforça.

Psicólogo não fica de mal, põe em extinção.

Psicólogo não troca as bolas, generaliza.

Psicólogo não dá toque, discrimina.

Psicólogo não puxa orelha, pune.

Psicólogo não dá exemplo, faz modelação.

Psicólogo não é sincero, é assertivo.

Psicólogo não seduz, faz aproximações sucessivas.

Psicólogo não surpreende, libera reforço interminente.

Psicólogo não finge, faz ensaio comportamental.

Psicólogo não sente, emite comportamentos encobertos.

Psicólogo não perde o medo, dessensibiliza.

Psicólogo não fica a perigo, sofre privação.

Psicólogo não é bacana, é reforçador.

Psicólogo não pega no pé, libera reforço contínuo.

Psicólogo não tem um medo du cacete, tem fobia.

Parabéns aos loucos que salvam diariamente milhões e milhões de seres-humanos que se desencantam com a vida!

- Como estou dirigindo? Me liga, beijos!


terça-feira, 26 de agosto de 2008

Um cigarro, dois anéis e uma montanha de devaneios.

Ao se dar conta que estava em um daqueles momentos mais importantes, ele estacionou o carro atrás de um carro vermelho, sentiu um embrulho no estomago e não conseguiu pensar em nada divertido, nada cômico, nada, nada. Ele só refletia na idéia de ter uma pessoa ao seu lado para a vida inteira. É um passo um tanto gigante para uma inexperiente na cláusula MATRIMONIO. Desceu do carro com seu óculos Ray-Ban de lentes laranja. Laranja por que era leão filho regente do sol, do mesmo sol das seis da tarde quando foi concebido a este mundo. É o mesmo sol das seis da tarde que ele vê todas as vezes que coloca seus óculos de lentes escuras e laranja. Ele sente uma paz, uma alegria, uma energia diferente. Mas nesta hora, neste exato minuto, nada estava à seu favor para um clima estável de tranqüilidade. Tudo estava tenso, mas estava alegre, tudo parecia agonizante, mas estava feliz, não parava de pensar nas coisas que uns dias atrás ouvira de sua companheira.

Atravessou a estreita Rua do Formigueiro, tirou do bolso a carteira de Marlboro-blue, azul porquê era suave, não agüentava mais o estridente gosto extremamente forte do vermelho, lhe causava culpa sempre que fumava, cuspindo pedaços pretos de seu pulmão ao léu. Tirou um cigarro e colocou na boca, procurou um isqueiro verde-cheguei, mas lembrou-se que havia perdido em algumas das valas que devia ter caído por aí. Voltou para o carro, pois se lembrara de uma caixa de fósforos que sempre deixava guardada no canteiro da porta do motorista. Acendeu o cigarro e foi para o canto da esquina, atrás, uma loja de celulares, onde se concentra perspectivas e desejos de consumo em massa por causa de um aparelho bobo que faz tudo o que uma câmera, telefone, rádio, GPS, mptrês-player, liquidificador, batedeira, forno a lenha, sensor pega - larapio e os Ca - ralho da bahia.

Tragava com força, pois estava assustado, devido às imensas dúvidas sobre o que seja assumir um compromisso de verdade, talvez porque estava magoado devido às tantas verdades que hora ouvira dela. Flashs que vinham com tanta força e rapidez, pequenas frases que impactam no coração de quem quer amar.

-Depois de todas essas loucuras que você me causa até perdi a admiração por você. Não sinto essa vontade de te querer todas as horas.

Ele pensara até numa hora que um banho de sal-grosso iria resolver todos seus problemas e tirar este lodo que compõe seu corpo. Mas sabia que nada disso iria adiantar para ela sentir-se atraída por ele novamente. Ele sabia que, parte de tudo que estava acontecendo ao seu redor era culpa sua. Ele é pegajoso, ciumento – mas – demonstra, roda a baiana quando se sente rejeitado na cama. E uma série de coisas que muitas mulheres suportariam, mas não deixariam passar em branco. Mas ela não, além de não suportar, jamais deixa nada passar em branco. E sempre tem uma resposta ríspida e rasteira na ponta da língua para deter seus momentos.
Pensou na única coisa boa que ouvira dela na noite passada:

-Não quero ser tua namoradinha. Quero dormir junto, poder ter as coisas e dizer que é nosso.

-Quero você ao meu lado.

Ele pensou, pensou, pensou, pensou, mas decidiu-se, e disse para si:

-Eu vou atravessar.

Lembrou de Cecília Meireles nesse momento que dizia:

“-Levai-me por onde quiserdes / aprendi com as primaveras a deixar-me cortar / e a voltar sempre inteira.”

O cigarro estava pela metade e a tensão não saia de sua cabeça, as vozes ecoavam de forma aleatória e contundente com tudo aquilo que jamais quis ouvir dela. Duas moças atravessam a rua, uma feia com seu um metro e cinqüenta e dois centímetros de altura, gorda, estava com sacolas de feira e franzindo a testa – com tanto sol assim no meio do equador, impossível não franzir a testa. A outra ao seu lado estava levemente bonita para não dizer “bonitinha”, pois a mesma estava com um boné parecendo uma frentista de posto de gasolina. Neste momento ele está olhando para baixo pensando com seus botões. - se o que valeria mais a pena, ir em frente e esperar no que vai dar ou esquecer tudo isso e ter uma nova vida. Ele não soube responder nada para si, absolutamente nada, porque estava um nada, tudo um nada, um zero, completo nada. A moça levemente bonita passou ao seu lado encarando-o e ele estava de óculos escuros e, portanto viu o olhar dela, como quem quer dizer alguma coisa:

-Olhe para mim, estou te encarando, porque achei você atraente demais, quero te levar para minha casa e dar um colo capaz de esquecer todos seus problemas no mundo. Desceu do meio-fio para rua, esperou os carros e os ônibus passarem, ao chegar ao seu destino que estava do outro lado, chegou mais perto e percebeu que o local estava fechado. Ficou chateado, um tanto desmotivado, mas seguiu em frente e disse:

-Deve ter outra joalheria mais perto que não feche para o almoço.

Deu uma ultima tragada e expulsou o cigarro com o polegar e o médio para bem longe. Andou duas quadras e viu a loja. Uma tímida joalheria, pequena e com tudo o que ele precisara no momento. Entrou de forma discreta, percebeu que só havia duas mulheres, uma delas era a “^-Bruxa-de-Salem-^” que o encarava, esperando uma troca de olhares, ela era irmã gêmea da “^-Princesa-da-tua-vida-^” uma antiga amiga de internet da qual sempre rendia boas conversas com ele. Ela de imediato o reconheceu pelos seus fortes traços e por causa das fotos dele que a irmã tinha no computador de sua casa, só o que ela não entendia era porque ele havia cortado um cabelo tão bonito como o dele. Ele sabia quem era a garota, mas não deu bola, estava focado demais para ficar relembrando do museu de pessoas que ficaram no esquecimento. Tirou os óculos e sentiu o peso da luz sem o ar laranja na vida, foi diretamente à outra moça e perguntou:

-Anel de noivado, por favor.

-Pois não. A moça respondeu.

A “^-Bruxa-de-Salem-^” ao ouvir, desviou o olhar e tornou-se a ler a revista, que deveria ser a Titi que sempre é famosa por ser A Estraga – Prazer das telenovelas brasileiras, adiantando a todos os leitores os capítulos que ainda nem foram lançados. Acaba com o mistério!

Ela trouxe um pequeno mostruário contendo as alianças, uma mais linda que a outra. Ele logo pensou, na felicidade que seria pedi-la em casamento num jantar formal na casa da família dela com a bênção de sua mãe e com a presença de todos os seus irmãos, todos com largos sorrisos, desejando a felicidade eterna para o casal. Pensou nos momentos que dividiriam, nos filhos um dia irão ter, as brincadeiras de família, o sexo com reconhecimento total do corpo e do toque, sabendo estrategicamente aonde tocar e aonde beijar para que ela sempre goze e chegue ao prazer antes dele.

O gorila resolveu descansar e saiu de seus ombros, sentiu-se mais leve e muito feliz só de pensar que estava a poucos passos de estar comprometido com a mulher mais fascinantemente – linda – geniosa - inteligente – problemática deste mundo. Viu a aliança – perfeita que os uniria para todo sempre - mesmo que esse sempre, sempre acaba. Viu que o tamanho masculino era um pouco maior, e percebeu logo o quanto sua mão é um tanto femínea. Sentiu-se triste também porque ainda não tinha o dinheiro suficiente para comprá-las. E logo disse:

-Esse tamanho aqui não é o meu, precisaria de um menor.

-Não tem problema, podemos reduzi-la. Ela disse.

-Hum, você pode guardá-la desde já para mim?

-Volto dentre de alguns dias para trazer o molde com os tamanhos dos anéis que preciso.

Colocou os óculos e saiu da loja, pensando naquele maravilhoso anel que os uniria. Ele teve certeza de que aquilo era a coisa certa a se fazer, sentiu-se feliz e revigorado sem gorila nenhum nas costas. Atravessou todas as quadras sem vontade nenhuma de acender nenhum cigarro, sentiu vontade de contar a todos o que acabara de decidir. Queria contar para ela que já tinha visto algumas alianças – perfeitas a união deles.
Mas pressentiu que não seria legal e logo pensou que deveria ficar tudo em segredo, pois tudo que é misterioso torna-se mais belo.