terça-feira, 26 de agosto de 2008

Um cigarro, dois anéis e uma montanha de devaneios.

Ao se dar conta que estava em um daqueles momentos mais importantes, ele estacionou o carro atrás de um carro vermelho, sentiu um embrulho no estomago e não conseguiu pensar em nada divertido, nada cômico, nada, nada. Ele só refletia na idéia de ter uma pessoa ao seu lado para a vida inteira. É um passo um tanto gigante para uma inexperiente na cláusula MATRIMONIO. Desceu do carro com seu óculos Ray-Ban de lentes laranja. Laranja por que era leão filho regente do sol, do mesmo sol das seis da tarde quando foi concebido a este mundo. É o mesmo sol das seis da tarde que ele vê todas as vezes que coloca seus óculos de lentes escuras e laranja. Ele sente uma paz, uma alegria, uma energia diferente. Mas nesta hora, neste exato minuto, nada estava à seu favor para um clima estável de tranqüilidade. Tudo estava tenso, mas estava alegre, tudo parecia agonizante, mas estava feliz, não parava de pensar nas coisas que uns dias atrás ouvira de sua companheira.

Atravessou a estreita Rua do Formigueiro, tirou do bolso a carteira de Marlboro-blue, azul porquê era suave, não agüentava mais o estridente gosto extremamente forte do vermelho, lhe causava culpa sempre que fumava, cuspindo pedaços pretos de seu pulmão ao léu. Tirou um cigarro e colocou na boca, procurou um isqueiro verde-cheguei, mas lembrou-se que havia perdido em algumas das valas que devia ter caído por aí. Voltou para o carro, pois se lembrara de uma caixa de fósforos que sempre deixava guardada no canteiro da porta do motorista. Acendeu o cigarro e foi para o canto da esquina, atrás, uma loja de celulares, onde se concentra perspectivas e desejos de consumo em massa por causa de um aparelho bobo que faz tudo o que uma câmera, telefone, rádio, GPS, mptrês-player, liquidificador, batedeira, forno a lenha, sensor pega - larapio e os Ca - ralho da bahia.

Tragava com força, pois estava assustado, devido às imensas dúvidas sobre o que seja assumir um compromisso de verdade, talvez porque estava magoado devido às tantas verdades que hora ouvira dela. Flashs que vinham com tanta força e rapidez, pequenas frases que impactam no coração de quem quer amar.

-Depois de todas essas loucuras que você me causa até perdi a admiração por você. Não sinto essa vontade de te querer todas as horas.

Ele pensara até numa hora que um banho de sal-grosso iria resolver todos seus problemas e tirar este lodo que compõe seu corpo. Mas sabia que nada disso iria adiantar para ela sentir-se atraída por ele novamente. Ele sabia que, parte de tudo que estava acontecendo ao seu redor era culpa sua. Ele é pegajoso, ciumento – mas – demonstra, roda a baiana quando se sente rejeitado na cama. E uma série de coisas que muitas mulheres suportariam, mas não deixariam passar em branco. Mas ela não, além de não suportar, jamais deixa nada passar em branco. E sempre tem uma resposta ríspida e rasteira na ponta da língua para deter seus momentos.
Pensou na única coisa boa que ouvira dela na noite passada:

-Não quero ser tua namoradinha. Quero dormir junto, poder ter as coisas e dizer que é nosso.

-Quero você ao meu lado.

Ele pensou, pensou, pensou, pensou, mas decidiu-se, e disse para si:

-Eu vou atravessar.

Lembrou de Cecília Meireles nesse momento que dizia:

“-Levai-me por onde quiserdes / aprendi com as primaveras a deixar-me cortar / e a voltar sempre inteira.”

O cigarro estava pela metade e a tensão não saia de sua cabeça, as vozes ecoavam de forma aleatória e contundente com tudo aquilo que jamais quis ouvir dela. Duas moças atravessam a rua, uma feia com seu um metro e cinqüenta e dois centímetros de altura, gorda, estava com sacolas de feira e franzindo a testa – com tanto sol assim no meio do equador, impossível não franzir a testa. A outra ao seu lado estava levemente bonita para não dizer “bonitinha”, pois a mesma estava com um boné parecendo uma frentista de posto de gasolina. Neste momento ele está olhando para baixo pensando com seus botões. - se o que valeria mais a pena, ir em frente e esperar no que vai dar ou esquecer tudo isso e ter uma nova vida. Ele não soube responder nada para si, absolutamente nada, porque estava um nada, tudo um nada, um zero, completo nada. A moça levemente bonita passou ao seu lado encarando-o e ele estava de óculos escuros e, portanto viu o olhar dela, como quem quer dizer alguma coisa:

-Olhe para mim, estou te encarando, porque achei você atraente demais, quero te levar para minha casa e dar um colo capaz de esquecer todos seus problemas no mundo. Desceu do meio-fio para rua, esperou os carros e os ônibus passarem, ao chegar ao seu destino que estava do outro lado, chegou mais perto e percebeu que o local estava fechado. Ficou chateado, um tanto desmotivado, mas seguiu em frente e disse:

-Deve ter outra joalheria mais perto que não feche para o almoço.

Deu uma ultima tragada e expulsou o cigarro com o polegar e o médio para bem longe. Andou duas quadras e viu a loja. Uma tímida joalheria, pequena e com tudo o que ele precisara no momento. Entrou de forma discreta, percebeu que só havia duas mulheres, uma delas era a “^-Bruxa-de-Salem-^” que o encarava, esperando uma troca de olhares, ela era irmã gêmea da “^-Princesa-da-tua-vida-^” uma antiga amiga de internet da qual sempre rendia boas conversas com ele. Ela de imediato o reconheceu pelos seus fortes traços e por causa das fotos dele que a irmã tinha no computador de sua casa, só o que ela não entendia era porque ele havia cortado um cabelo tão bonito como o dele. Ele sabia quem era a garota, mas não deu bola, estava focado demais para ficar relembrando do museu de pessoas que ficaram no esquecimento. Tirou os óculos e sentiu o peso da luz sem o ar laranja na vida, foi diretamente à outra moça e perguntou:

-Anel de noivado, por favor.

-Pois não. A moça respondeu.

A “^-Bruxa-de-Salem-^” ao ouvir, desviou o olhar e tornou-se a ler a revista, que deveria ser a Titi que sempre é famosa por ser A Estraga – Prazer das telenovelas brasileiras, adiantando a todos os leitores os capítulos que ainda nem foram lançados. Acaba com o mistério!

Ela trouxe um pequeno mostruário contendo as alianças, uma mais linda que a outra. Ele logo pensou, na felicidade que seria pedi-la em casamento num jantar formal na casa da família dela com a bênção de sua mãe e com a presença de todos os seus irmãos, todos com largos sorrisos, desejando a felicidade eterna para o casal. Pensou nos momentos que dividiriam, nos filhos um dia irão ter, as brincadeiras de família, o sexo com reconhecimento total do corpo e do toque, sabendo estrategicamente aonde tocar e aonde beijar para que ela sempre goze e chegue ao prazer antes dele.

O gorila resolveu descansar e saiu de seus ombros, sentiu-se mais leve e muito feliz só de pensar que estava a poucos passos de estar comprometido com a mulher mais fascinantemente – linda – geniosa - inteligente – problemática deste mundo. Viu a aliança – perfeita que os uniria para todo sempre - mesmo que esse sempre, sempre acaba. Viu que o tamanho masculino era um pouco maior, e percebeu logo o quanto sua mão é um tanto femínea. Sentiu-se triste também porque ainda não tinha o dinheiro suficiente para comprá-las. E logo disse:

-Esse tamanho aqui não é o meu, precisaria de um menor.

-Não tem problema, podemos reduzi-la. Ela disse.

-Hum, você pode guardá-la desde já para mim?

-Volto dentre de alguns dias para trazer o molde com os tamanhos dos anéis que preciso.

Colocou os óculos e saiu da loja, pensando naquele maravilhoso anel que os uniria. Ele teve certeza de que aquilo era a coisa certa a se fazer, sentiu-se feliz e revigorado sem gorila nenhum nas costas. Atravessou todas as quadras sem vontade nenhuma de acender nenhum cigarro, sentiu vontade de contar a todos o que acabara de decidir. Queria contar para ela que já tinha visto algumas alianças – perfeitas a união deles.
Mas pressentiu que não seria legal e logo pensou que deveria ficar tudo em segredo, pois tudo que é misterioso torna-se mais belo.

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