quinta-feira, 31 de julho de 2008

A Bud é nossa!!!!

  • Por Adriana Mattos
  • NOVA IORQUE, DOMINGO 13, 19 HORAS E 40 MINUTOS. Nesse dia, data e hora, Carlos Brito, 48 anos, o homem que comanda a cervejaria InBev, recebeu por telefone a notícia mais esperada da breve história da empresa. Da sala do escritório de advocacia Sullivan & Cromwell, na Broad Street 125, Brito ouviu o recado dos advogados: a Anheuser Busch, a maior cervejaria do mundo, havia assinado o contrato de venda da empresa para a InBev minutos atrás. Distante quase dois mil quilômetros dali, num dos quatro hangares do Aeroporto Spirit of St Louis, onde fica a sede da maior e mais cultuada cervejaria norte-americana, August Busch IV, o sexto membro da tradicionalíssima família a dirigir o grupo, assinou o tão rejeitado acordo de US$ 52 bilhões. Esse tornou-se, por diversas razões, um marco do mundo corporativo mundial. Ninguém nunca pagou tanto dinheiro, à vista e em cash, por uma companhia não-financeira. Nunca uma empresa brasileira tornou-se líder mundial em tão pouco tempo (foram só oito anos). Nunca um grupo industrial desse peso conseguiu comprar tão velozmente outro que NÃO estava à venda (foram 32 dias). Não houve comemoração, pelo menos do lado da família Busch. Os conselheiros assinaram tudo rapidamente e partiram em silêncio. Exatamente o contrário da celebração comandada por Brito, em Nova York. O brasileiro comemorou a criação da nova empresa Anheuser Busch InBev com um gole de Budweiser geladíssima naquela noite.

  • Ao sair dali, Brito encerrou a sua mais desgastante via-sacra desde que se tornou CEO da InBev, apenas quatro anos atrás. Ele comandou um périplo de reuniões infindáveis. Bateu na porta do Senado dos EUA para convencer os políticos mais radicais de que o império americano estava salvo, esteve em longos e difíceis encontros com diretores da Anheuser Busch e chegou até a enviar uma carta aos moradores de St. Louis para tranquilizá-los sobre o negócio. Os americanos não queriam que um ícone com 156 anos de idade, o “tesouro da América”, fosse parar nas mãos de “executivos brasileiros só focados em custos”. Brito estava seguindo à risca metas de um dos planos mais bem arquitetados por Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, o trio que costurou a fusão Brahma-Antarctica em 2000 e, silenciosamente, planejava a tão venerada liderança mundial. Uma liderança que já foi alvo de piada. Conta-se que, numa das viagens de Telles a St. Louis, numa visita cordial à Anheuser, uma forte boataria havia invadido o mercado. A Brahma seria vendida à Bud. Vaidosos com o rumor infundado, os diretores da Anheuser cutucaram Telles, que bateu de volta. “Nós é que ainda vamos comprar vocês.” A frase veio seguida de risadas abertas. Se quem ri por último, ri melhor, o fato é que agora a InBev gargalha à vontade após arquitetar um plano que precisou de muito sanguefrio para sair do papel. Lemann, Telles e Sicupira venceram nos detalhes. Exatamente porque transformaram detalhes em prioridade.

Nenhum comentário: